Demora, mas chega uma hora em que a vida entra nos eixos
novamente, em que a gente se readapta.
Demora, mas em um belo entardecer com os amigos que brincam e falam besteiras a
vontade, com o pôr de sol de fundo enfeitando a paisagem, você percebe que está
no lugar onde deveria estar.
Demora, mas um dia você acorda e sorri satisfeito por ter o SEU teto sobre você
e percebe que a felicidade de poder escolher a cor da parede é imensamente
maior que muitos outros prazeres importados. Então você pinta e extravasa o seu
simples poder de decisão antes banido.
Demora, mas quando o sol é forte o suficiente para te dar coragem de entrar na
cachoeira com suas águas geladas e desfrutar da natureza, você entende que isso
também é liberdade.
Demora, mas quando alguém vai embora você se toca que esse tempo não volta mais
e que agora é hora de fazer com muito amor para aqueles que ficaram, que te
esperaram, que te amaram incondicionalmente além da distância em que você
estava.
Demora, mas você começa a valorizar novamente o toque, os aromas, o aconchego,
o cafuné, os palavrões, os dialetos brasileiros inventados por você mesmo e que
quem é de casa entende.
Demora, até perceber que a solidão já não te assusta e que não é necessário
sair toda noite ou comprar algo para estar bem consigo mesmo.
Demora sim. Ahh! Como demora, para saber que você sempre estará em cima do muro
a partir do momento em que cruza a fronteira, mas que isso não é ruim e é
quando você passa a ser grato por poder ter vivenciado o outro lado, tendo a
certeza que não é impossível e que quando quiser pode voltar pra lá, para
passear, estudar, viajar ou seja lá o que for.
Demora ainda mais pra você reconhecer as belezas internas, próximas,
longínquas, mas dentro do seu território, aquele velho desconhecido que é seu.
Demora de mais, até você se sentir apaixonado novamente pela vida que nunca
deixou de ser sua, onde quer que você estivesse e então passar a amá-la com
todas as suas forças e usar a garra que você teve para começar do zero em um
lugar distante, agora em sua nova/antiga realidade.
Demora, mas você vê que as condições mudaram dentro de você, embora tudo pareça
externamente igual, e isso faz a total diferença.
Demora, mas em algum determinado momento você estará fazendo planos novamente.
Demora para se readaptar, mas um dia sem ninguém falar nada você vai olhar ao
seu redor e sentir-se feliz por estar de volta.
Débora Vasconcelos